conta outra #16


O SIGNIFICADO DA EXCEÇÃO
imagem de torres garcia



Acaba de me acontecer uma daquelas coisas mágicas. Aquelas que podem passar despercebidas, como se não tivessem valor nenhum, quando estamos desatentos. Bem, não foi o caso, dessa vez eu estava atento até demais.

Por falar em demais: será que a atenção excessiva, o foco centrado, não na parte nem no todo, mas na coisa em si, com todas as suas inerências e vicissitudes, pode chegar a ser algo prejudicial? Dizem que tudo demais faz mal. Mas essa regra se aplica à atenção? Se aplica ao respeito, à dignidade, à justiça? Se aplica à harmonia? Se aplica ao amor? Ou levar a regra a sério demais é contradizer a própria regra, e portanto melhor seria compreender o significado da exceção, antes de seguir em frente sem a noção do que as coisas são em sua essência?

Bem, tudo no seu tempo. Uma coisa de cada vez. Todas ao mesmo tempo e todas de uma só vez. O fato, o caso que eu relato, o que de contável me aconteceu, foi o seguinte. Estava eu aqui em minha paz, em casa, escrevendo mais um daqueles e-mails compartilhadores de idéias. Dessa vez me preparava para enviar o segundo de uma série despretensiosa, focada nas possibilidades possíveis.

No primeiro e-mail que enviei, escrevi: “Sim, é possível olhar a(s) coisa(s) de outra(s) forma(s).” E junto colei a imagem de La Escuela Del Sur, uma arte-mapa conceitual, colocando o nosso norte na parte baixa da América do Sul. Colocando, em resumo, o sul como o nosso norte. Uma simples inversão de perspectiva na forma como olhamos o mundo, a partir de onde vivemos e estamos, para percebermos que é tudo uma questão de ponto de vista.

Já no segundo resolvi enviar outra frase parecida, na mesma linha, que chegou do nada, enquanto eu nada fazia. Ela dizia: “É possível sim tomar conhecimento de outra(s) realidade(s) e trabalhar por ela(s).” Nesta eu ainda não havia colocado imagem. E enquanto pensava em que visual usaria para ilustrar a mensagem, resolvi colocar uma musiquinha pra embalar o movimento.

Dois cliques na pasta Musicalizando. Encontro categorias, ritmos, vertentes, sonoridades. Meio que no automático, sem demonstrar preferência, dou dois cliques em Étnicos & Regionais. Me deparo com uma lista de pouco mais de dez artistas, e como que por impulso, meio que sem pensar, escolho Fela Kuti. Sem nem ver direito a relação de músicas, clico na primeira que aparece na frente. E qual é o nome dela? “It´s no possible”

Qual é a possibilidade de um encontro conceitual desses acontecer? Qual é a probabilidade de uma contradição factual dessas ser percebida? Não vamos nos limitar aos números, nem as perguntas, mas somente constatar que há muita coisa acontecendo. E as coisas mais relevantes muitas vezes vêm vestidas das coisas mais bobas. Essa é a grande contradição, o grande encontro.

Estamos prontos para unir as duas metades? Vamos percorrer começo, meio e fim em cada passo do caminho?


 
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